Tive muitas dores e aprendi a viver com elas. Tive muita febre, muito frio e em pleno mês de Junho continuei a precisar dos aquecedores ligados. Passei o ano permanentemente cansada, perdi a conta ao número de vezes que me picaram. Muitos químicos, mais de 2000 de comprimidos. Vi o meu cabelo cair às mãos cheias e estava já a pensar ver as cabeleiras postiças quando, inexplicavelmente, a queda parou. Fraco, ralo, mas acabou por se aguentar. Ao contrário de todas as previsões, engordei.
Chorei muitos dias. Chorei sozinha e acompanhada, chorei em casa, no carro, no trabalho e no hospital. Na maior parte das vezes, foram lágrimas de tristeza e de desespero, mas no meio dessas também houve lágrimas de alegria.
Vi terminar uma relação longa e conturbada, mas na qual eu confiava plenamente, e percebi que gostava mais dele do que alguma vez imaginei. Fiquei sozinha pela primeira vez desde que me entendo por gente, e logo na fase em que mais precisava de companhia.
Tive a certeza de ter a melhor família do mundo, que me mimou e me protegeu muito. Tive muitos acessos de fúria, sofri muitas flutuações de humor, fui injusta e mesmo assim a minha família esteve sempre lá, incansável e tolerante.
Tive a certeza de ter a melhor família do mundo, que me mimou e me protegeu muito. Tive muitos acessos de fúria, sofri muitas flutuações de humor, fui injusta e mesmo assim a minha família esteve sempre lá, incansável e tolerante.
Tive crises de ansiedade, medo e uma depressão. Tive fé e acreditei. Festejei as vitórias que fui tendo, os resultados dos exames que foram chegando.
Lambi as feridas e decidi que não seria um caso digno de pena, e em vez de fazer o mais comum, deixar de trabalhar durante esta fase, abracei ainda mais projectos. Não procurei nada activamente, mas quando recebi as propostas, senti que não as podia recusar. A minha mãe quase enlouqueceu de tanta preocupação. Tive muitos dias de trabalho que duraram mais de 12 horas, em que chegava a casa a chorar de cansaço, cheia de febre, mas não desistia e no dia seguinte lá estava eu outra vez. Apesar de tudo, fui sempre uma boa profissional.
O síndrome da super-mulher fez-me inscrever-me numa pós-graduação. Passado uns meses, levou-me a candidatar-me a um mestrado, sem grandes perspectivas de ser seleccionada, dado o elevado número de candidaturas. Entrei numa das posições cimeiras e aconselharam-me a não fazer a matrícula. Senti isso como um desafio pessoal e em Setembro dei por mim a braços com um trabalho a tempo inteiro, colaborações assíduas em dois projectos diferentes, uma pós-graduação, um mestrado e um tratamento super agressivo e cheio de efeitos secundários.
Participei numa conferência e recebi muitos elogios da plateia. Perdi a conta ao número de directas que fiz, por motivos de trabalho ou de estudo e a minha vida social nunca foi tão pobre. Saí algumas vezes, com dose reforçada de analgésicos, mas no pouco tempo que tive livre preferi ficar sozinha. Descobri que não estava preparada para deixar ninguém aproximar-se e que tinha arame farpado à volta do coração.
Acabei o protocolo de tratamento da mesma forma que o comecei: a chorar. Não fiz a festa que pensava fazer. Duas semanas depois, fui a Barcelona. Diverti-me muito, andei mais quilómetros nesses dias do que em todo o ano. Voltei com vontade de lá voltar.
Fui poucas vezes ao cinema, li menos do que gostaria e não fui a nenhum concerto. Conheci pessoas novas, algumas delas à custa deste blog. As minhas olheiras tornaram-se crónicas.
Ajudei algumas pessoas, tornei-me mais sensível e sofri com o sofrimento dos outros. Fartei-me do meu trabalho e só não me vim embora por teimosia.
No Natal, não tive tempo de passear na Baixa e nos shoppings, pelo que não pude discutir a qualidade das iluminações. Os presentes foram comprados à pressa, mas não com menos amor.
O ano acabou sem eu estar preparada, convalescente de uma gripe à moda antiga, e com um défice de sono muito grande. Não comi passas, mas pedi desejos. Brindei com Champomy e beijei a minha família.
O ano acabou sem eu estar preparada, convalescente de uma gripe à moda antiga, e com um défice de sono muito grande. Não comi passas, mas pedi desejos. Brindei com Champomy e beijei a minha família.
Apesar do que possa parecer, já tive anos piores.
17 comentários:
Correu-me um arrepio ao ler este teu post...
Quantos de nós, por muitos menos achamos que temos anos horriveis.
Não tenho palavras, mas digo que admiro essa tua força, esse teu síndrome de super-mulher.
Desejo-te um bom ano.
Beijinhos
Bem... sigo o teu blog pelo google reader há bastante tempo, mas nunca comentei!
Depois de ler este teu post, senti, de imediato, um impulso que me fez vir aqui deixar um comentário:
PARABÉNS PELA MULHER DE ARMAS QUE ÉS!!
Essa tua garra faz-nos ver a todos o quão insignificantes são a maioria dos nossos problemas e que, com força de vontade, tudo se consegue!
Todos nós precisamos de alguém com a tua força para nos fazer acreditar num mundo melhor!
Desejo-te um ano de 2011 fantástico, tal qual mereces, com tudo de bom que a vida pode proporcionar!
Beijinho,
Rita
E 2011 será certamente um ano mil vezes melhor!! És uma mulher de força ;) Bjinhos grandes continua igual a ti mesma
És uma lutadora! E vais ver que 2011 vai ser ainda melhor! beijocas
não é sindrome... és mesmo a super-mulher!
queres uma prova? Lê o que escreveste!
Grande, grande Mulher!
És uma inspiração (:
Gostei das tuas palavras. Espero que 2011 seja muito bom para ti, que mereces.
Força *
Gosto tanto, tanto, tantoooo de te ler :)
Tem um ano e uma vida em grande!
(Good things happen to those who wait)
Cinderela...é muito feio pôr os leitores a chorar!:)
Beijinhos e um óptimo ano para ti!
vai tudo melhorar. 2011 vai ser o TEU ano! prepara-te :D
beijinhos
Grande lutadora, és um belo exemplo para todas.
Que 2011 te traga tudo de bom.
Bjs
2011 vai ter de ser maravilhoso. Deve-te isso.
Eu bem sabia que eras uma força, uma heroína.
Que 2011 faça jus a essa força e seja justo com quem merece´.
Bjokas
2011 só pode vir a ser um bom ano para uma mulher de armas como tu.
Beijinho grande e desejo-te o melhor! ;)
Só posso desejar que 2011 traga o que de melhor te puder desejar... :)
Ao ler o teu post vejo que és uma mulher forte, mesmo cm tanta lágrima que choraste... E isso vale por muita coisa!
E como mulher forte que és... 2011 vai ser fácil :)
Beijinho*
e venha um 2011 recheado de coisinhas boas para te pôr um sorriso enorme na cara e deixar este ano mau lá atrás!=)
és FANTÁSTICA!=D
beijo enorme
Obrigada a todas pelas vossas palavras. Até fico sem jeito, com tantos elogios juntos...
Beijo a todas, sem excepção, e que 2011 vos brinde com muitos sorrisos.
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