quarta-feira, 12 de maio de 2010

Aqui também se fala de coisas sérias (e tristes)

Imaginem uma mulher ainda jovem, com uma vida simples e humilde, que um dia, no meio dos seus afazeres domésticos, deu uma queda. Dessa queda resultou uma perna partida, nada de irremediavelmente grave. Mas essa senhora, que não foi, de todo, bafejada pela sorte, foi parar às mãos de um médico pouco competente, e um problema relativamente simples acabou por complicar-se. Passados quase 5 anos praticamente não consegue andar, o que a impede de trabalhar, recebendo uma quantia ridícula de rendimento mínimo.

Como um mal nunca vem só, o marido contraiu recentemente uma infecção numa perna, estando em risco de a mesma lhe ser amputada. Tem uma baixa miserável.
Lá em casa, há ainda dois filhos menores, um deles completamente cego, precisando de muitos cuidados e de apoio especializado.

Recentemente, a senhora mudou de médico e este reconheceu de imediato o erro do clínico que a seguia anteriormente, mas foi o primeiro a aconselhá-la a não fazer queixa, uma vez que - pasmem-se! - a situação poderia prejudicar a qualidade dos cuidados hospitalares que vem recebendo. O conselho era desnecessário: a senhora mal tem dinheiro para comer, não pode pagar a um advogado, e por si só não dispõe de conhecimentos suficientes para apresentar uma queixa.
Foi agora, ao fim deste tempo todo, enviada para fisioterapia, a ver se recupera algum movimento na perna lesionada.

Acabou por ir parar à mesma clínica onde a minha mãe anda em tratamento, e entre um exercício e outro, lá vão conversando. No outro dia, confidenciou-lhe que faltou durante uma semana porque não tinha dinheiro para os transportes (problema entretanto resolvido, já que agora conta com o transporte dos bombeiros da sua área de residência); ontem, disse-lhe que o filho invisual, que não vê a pobreza em que estão mergulhados, lhe pede iogurtes e que ela fica destroçada por não lhos poder dar.
Foi assim que eu tomei conhecimento deste drama que me comove, que me revolta e no qual não tenho conseguido deixar de pensar.

É por isso que já não posso ouvir falar do Papa, nem de quem se dispõe a gastar uma fortuna para o trazer até cá. Mas que raio de mundo é este, que prefere financiar um senhor a quem não falta riqueza e que a ostenta de uma forma insultuosa, e que negligencia totalmente uma família de gente boa, honesta e trabalhadora, a quem uma sequência de infortúnios (que podem acontecer a qualquer um de nós) deixou na mais completa miséria? Como é que as pessoas conseguem enfeitar as varandas com bandeirinhas hipócritas, sabendo na porta ao lado há tanto sofrimento que podia ser minimizado? Porque é que toda a gente quer oferecer coisas ao Papa, mas ninguém oferece nada a esta família?

15 comentários:

Soinita disse...

É revoltante. Muito!
Eu passo-me só de pensar que existem muitas pessoas na mesma situação. E o nosso Estado é tão bom que prefere dar a quem já tem muito e tirar a quem tem pouco.

Fios de Vida disse...

Realmente! Esta história do Papa e dos milhões que se gastam nesta visita são revoltantes especialmente quando vemos situações como esta!

Unknown disse...

É vergonhoso! Bj

GATA disse...

Papa à parte, a culpa é de quem governa Portugal! Infelizmente conheço casos assim, e ajudo como posso quem precisa, não faço 'bandeira' das minhas (boas) acções, até porque -boas ou más- as acções ficam com quem as pratica!

Neni disse...

Fico doente com estas coisas. Revoltada é o termo correcto. Como é que este sujeito pode ser líder seja do que for? Que exemplo é esse de viver em riqueza quando hà tanta gente que nem pão pode comprar?
Por isso chamo-lhe todos os nomes e mais alguns.

Rita Lopes disse...

E se se criasse aqui uma continha par podermos ajudar?

Dina disse...

Tens realmente toda a razão! É revoltante. Nojento mesmo. E pior é haver milhares de famílias como essas... Que tal fazermos algo para os ajudar?

Anónimo disse...

Porque, tal como o filho desse casal, as pessoas são cegas. Cegas ou não querem saber. E porquê? Porque não é nada com eles, é com os outros. Não são elas que estão na miséria, a sofrer em silêncio, sabendo que pouco é o que podem fazer. Mas essas pessoas esquecem-se que, um dia, o azar pode bater-lhes à porta. E, o facto de adorarem o papa (nem quero comentar o "oferecer") e rezarem todos os dias, não lhes vai garantir uma vida plena e feliz (nem um lugarzinho no céu). Elas vão arrepender-se de negar ajuda a quem precisa, para dar a quem tem mais. Só aí é que vão dar voltas à cabeça e perceber que o erro está em não ajudar quem mais precisa. UM BOCADINHO podia melhorar a vida destas pessoas e... guess what? Não custa nada!

E, sinceramente, a incompetência desses seres que trabalham em sítios chamados hospitais (há muitos, minha gente, há muitos) deixa-me cada vez mais com vontade de os mandar para a rua. Deviam exercer a sua profissão porque GOSTAM dela e não porque recebem bem ao final do mês.
Será que anda toda a gente a ficar louca?

Olhos Dourados disse...

É uma história muito triste.

Poetic Girl disse...

Tantas mas tantas histórias dessas querida. E parece que tudo faz de conta que não vê, ignora, até ao dia que lhe bater à porta. Concordo com a tua revolta, também a sinto. Deus certamente não quereria um desperdicio de dinheiro com uma pessoa quando esse dinheiro dava para ajudar tantas outras. Já para não falar que o nosso país não está em condições financeiras para se meter nestas aventuras. bjs

Jade disse...

Faço eco às palavras já aqui escritas: Não sabes por acaso se há uma maneira de os podermos ajudar?

Anónimo disse...

Fiquei bastante triste com a história desta senhora... :(

Beijinhos

Tanita disse...

Infelizmente é a sociedade que temos e as pessoas hipócritas ainda ficam felizes com acontecimentos como estes e dizem que a vinda do papa não implicou grandes custos! há pois não...

C*inderela disse...

Querida, é uma situação muito complicada e revoltante. Com tanta gente a precisar de bens essenciais os nossos politicos e povo só se preocupam com as grandes obras publicas e gastos desnecessarios ... A situação está mesmo muito má. Mas a senhora não poderia ter uma advogada da segurança social? Assim poderia processar (o que levaria os seus anos) o médico. Erros desses não se adimite!
É muito revoltante ...

Bjokas *****

Margarida Lozano disse...

Eu não comparava essa história com a situação [contrária] do Papa. Pegando na atitude que revelas-te daqueles que oferecem "fortunas" ao Papa, eu também considero que essa atitude é de pouco bom senso. Deveriam claro deixar um pouco deles a outros. Estas atitudes é que são O problema, não aquilo que o Papa tem.

É realmente uma situação muito muito complicada, mas se houver assistentes sociais, carinho pelas pessoas, e consideração... essa família terá um pouco mais de felicidade.