quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Dieta forçada

Ando sem apetite. Sei que preciso de me alimentar, que neste momento uma boa nutrição é essencial para ajudar à acção do tratamento, mas a hora das refeições tem sido dolorosa. Sinto-me novamente com 7 anos, o prato de comida já fria em frente a mim, os amigos lá da rua a tocarem-me à campainha para ir brincar, e a mãe irredutível na sua decisão de não me deixar sair enquanto não comer tudo.

Já lá vão 19 anos desde esse tempo, já não moro na mesma rua, os amigos dessa altura perderam-se pelo caminho e os de agora mandam sms em vez de virem cá bater à porta... Mas a mãe continua a mesma de sempre, continua a fazer o mesmo ar de chateada ao olhar para o meu prato, continua a caprichar na apresentação da comida ("porque os olhos também comem"), continua a comprar do bom e do melhor, na esperança de que desta vez eu coma tudo. E como já sou crescidinha para me proibir de sair de casa, arranja outras formas mais subtis de me chantagear. E tudo isto seria ridículo, se não fosse feito com tanto amor e com tão boa intenção, mas sendo assim até se torna engraçado. Percebo que para ela isto seja tão ou mais complicado do que para mim, que lhe custe pensar que alguma coisa pode não correr bem pelo facto de não me alimentar convenientemente, que o instinto maternal dela a leve a esquecer-se que já sou adulta, e que ao olhar para mim ela continue a ver a mesma menina de totós, que se recusava a comer o peixe e a sopa.

E eu vou continuar a fazer um esforço, a negociar com ela aquelas duas garfadas a mais que já não consigo engolir, mas que a deixam um pouco mais tranquila; vou continuar a espremer e a comprimir a comida no prato, para criar a ilusão de que as sobras são poucas; vou continuar a encher as gavetas da minha mesa no trabalho com pacotes de bolachas que não faço intenções de comer; vou continuar a beber os Capri-Sonnes de tutti frutti, os mesmos da minha infância, que na falta de algo mais consistente, "sempre têm algumas vitaminas".

2 comentários:

the bloom girl disse...

Preocupação de mãe. Imagino que seja difícil, mas tens que te alimentar bem.

beijinho

Frutinha (Desabafos e Coisas) disse...

Imagino que nao seja facil com tanta medicaçao. Até porque tenho pessoas proximas de mim tambem assim.
Mas acredita que comer é importante, afinal a nossa mente precisa de força mas o corpo tambem!
Vá... mais uma garfadinha :p