Não posso deixar de escrever qualquer coisa em homenagem ao dia 25 de Março, o que está prestes a acabar, pela lufada de ar fresco que veio trazer, por marcar o início de uma nova fase da minha vida.
Vou então transcrever aqui um pequeno excerto de uma carta que escrevi durante a tarde, uma missiva de 7 páginas cheias de self-disclosures. A destinatária ainda não a leu, apesar de já lha ter entregue, porque adormeceu cedo, cansada de dois meses e meio de sofrimento e de insónias.
"Hoje é um dia feliz. Feliz como há já muito não havia um.
Hoje não acordei sobressaltada com o despertador, não acordei cansada, com vontade de ficar na cama, como costumo. Acordei de forma natural, como se o meu corpo estivesse saciado de descanso, com uma energia que nunca tenho nos outros dias.
Quando abri a janela, percebi que o mundo ao meu redor sabia que o dia era de felicidade; por isso as pessoas tinham um ar mais gentil, o sol aquecia mais do que o costume e o céu estava de um azul diferente, um azul que estava guardado desde o início do mundo para ser usado hoje.
Nas notícias disseram que o Deco talvez não possa alinhar no próximo jogo da Selecção de apuramento para o Mundial. Não me aborreci. Disseram que o preço do barril de petróleo caiu. E apesar de ser uma boa nova, não fiquei mais contente por isso. A minha felicidade tinha já atingido o seu auge, era impossível aumentá-la ainda mais, e certamente que não seria o futebol a diminuí-la.
Tomei banho em cinco minutos, acção inédita da minha parte, porque hoje nem me lembrei de usar todas as minhas máscaras e os meus cremes do costume. Vesti aqueles jeans coloridos, os cor-de-rosa, tão primaveris que chamam demasiado a atenção e que nunca usei num dia de trabalho. Pus aquele perfume que me deste no aniversário, de edição limitada, que guardo para ocasiões especiais, e que por isso tem cheiro de felicidade.
Almocei qualquer coisa leve, distraidamente, sem fome. Apenas por rotina. Apenas porque era só depois do almoço que te podia ir buscar ao hospital.
Ontem à noite, quando saía da tua beira com a certeza de que era a última que passarias longe de casa, recordei aquela outra noite, há dois meses e meio atrás, a primeira em que te deixei ficar nesse lugar horrendo.
(...)
Mas hoje, dia 25 de Março de 2009, não vamos recordar coisas tristes. Afinal de contas, hoje é um dia feliz, feliz como há já muito não havia um. É o dia em que tu, minha adorada Mãe, voltaste para casa. Mais sofrida, mais fragilizada, mas renascida para uma segunda oportunidade de viver. Voltaste, e é tudo o que importa!"
1 comentário:
Lindo texto Cinderela :)
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