Desta vez, sou mesmo obrigada a concordar com o Alberto João Jardim. Depois de todos os escândalos, da prepotência, da censura a quem ousava criticá-lo, eis que o engenheiro (cof cof cof, que licenciaturas ao Domingo para mim não contam como tal) José Sócrates vai continuar no poder, ainda que com maioria relativa. Criminalidade violenta a aumentar, desemprego a bater recordes, empresas a encerrar diariamente, manifestações a torto e a direito e vai-se a ver, quando o povo tem a possibilidade de correr com este traste do governo, eis que lhe voltam a garantir o tachinho. Estou francamente desapontada. Toda e qualquer esperança que eu pudesse depositar neste país se perdeu esta noite.
É nestas alturas que eu me lembro de algumas discussões já travadas na Grécia antiga, a propósito da razão das maiorias e da perversão que pode resultar da democracia. Basta recordarmo-nos que alguns dos mais despóticos e sanguinários governantes chegaram ao poder democraticamente (o Hitler, por exemplo). Chamem-me ditadora, mas quase que me apetece dizer que o voto não deveria ser um direito naturalmente adquirido por todos os cidadãos aos 18 anos. Para mim, o direito de voto deveria ser conquistado pela aprovação num qualquer teste de discernimento, de consciência política, de razão crítica devidamente fundamentada e independente da idade que se possui. Talvez assim se evitassem catástrofes como esta, que acabámos de presenciar.
Olhando para os resultados destas legislativas, só posso mesmo pensar duas coisas: ou somos um país de masoquistas, ou todos aqueles a quem o PS incitou à preguiça e ao parasitismo (através de subsídios, rendimentos sociais de inserção e e outras medidas que tais) resolveram hoje unir-se e agradecer a benesse de passarem o dia todo em casa (uma casa que lhes foi atribuída pela Segurança Social, claro está, que comprar casa é para os burros que trabalham) ou no café, na certeza de que o chequezinho lhes vai parar às mãos todos os meses, sem que para isso tenham de fazer mais do que manter-se vivos.
Não estou com isto a dizer que sou contra a protecção social, mas antes a manifestar a minha desaprovação para com os moldes em que ela vem sendo praticada. Basta um passeio pela baixa do Porto, a partir das 20h, para me questionar onde estão os subsídios e a habitação social para todos aqueles sem-abrigo, na sua maioria já idosos, que se amontoam à porta das lojas já fechadas, sob caixas de cartão e jornais velhos, sem dignidade alguma. Mas, infelizmente, aquilo com que mais me deparo são jovens saudáveis para quem a hipótese de fazer parte da força laboral nacional está completamente fora de questão, porque usufruem de um rendimento mensal que, não lhes permitindo fazer fortuna, também não os deixa passar necessidades. Acomodam-se àquele valor, que lhes vem ter às mãos sem esforço, recusam propostas de integração no mercado de trabalho, pedincham todos os bens que o resto de nós trabalha para ter. É a velha história: em vez de lhes darem a cana e de os ensinarem a pescar, dão-lhes o peixe (já cozinhado e sem espinhas, acrescento eu!); é certo que não é salmão nem bacalhau, mas a sardinha também mata a fome.
Aguardam-nos 4 anos do mesmo. Eu vou continuar a trabalhar que nem uma desgraçada para entregar 45% (!) do meu salário ao governo e continuar a não ter direito a baixa, se algum dia vier a necessitar da mesma (três pancadas na madeira), ou de subsídio de desemprego, caso me dêem um chuto no rabo (e podem fazê-lo a qualquer momento, uma vez que faço parte daqueles portugueses que trabalha em regime de falsos recibos verdes); os pequenos empresários vão continuar a ver o cerco fiscal a apertar-se cada vez mais; todos os que efectivamente precisam vão continuar a não ter qualquer ajuda, a viver numa pobreza de partir o coração; os jovens que queiram evoluir, que tenham ambição, vão permanecer acorrentados num país que promove a passividade e a mediocridade... E o chico-espertismo vai continuar a ser premiado, à boa imagem e semelhança do que se tem passado com a própria vida do senhor Primeiro Ministro.
É isto que temos... E não dá para mais. Salve-se quem puder, que aqui vamos nós em queda-livre!