quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Hoje...

... É o teu dia de aniversário. Não importa que já cá não estejas, não importa se nunca mais vier a escrever sobre ti. Mas podes ter a certeza de que nunca me hei-de esquecer que nasceste a 16 de Setembro, há muitos calendários atrás.
No sítio para onde foste não deves ter ligação à Internet, por isso provavelmente não irás ler o meu blog. Mas sei que me consegues ver e que reparaste como eu me continuo a lembrar do teu dia.

Também me lembro daquele outro, em que partiste, em como me senti culpada pela nova paixão me ter impedido de te ir visistar à tua cama de hospital, na véspera, desperdiçando assim aquela última oportunidade de te ver com vida. Esse peso vai sempre esmagar-me o coração.
Enquanto estiveste consciente, enquanto sabias apreciar as minhas visitas, falhei poucas vezes. Recordo-me de chegar da faculdade perto das 20horas e ir sem jantar para a tua beira, para desespero da minha mãe, que temia pela minha segurança ao andar sozinha, de noite, numa zona tão mal frequentada. Desculpa se em muitas dessas vezes o cansaço não me deixou ficar contigo tanto tempo como merecias. Mas sabes que no caminho até ao carro vinha sempre a rezar por ti? E sabes que as minhas orações eram regadas a lágrimas? Pois sabes... Agora já sabes.
Pouco tempo antes de nos deixares, quando o teu corpo já estava demasiado fraco para suportar a força do teu espírito, quando já nem os olhos conseguias abrir, tive um momento de fraqueza e chorei junto a ti. Chorei muito, porque nesse dia percebi que ia ter de me habituar a não te ter no meu mundo (pelo menos não da forma como eu sabia ter-te até então). Fiz-te muitas festinhas no cabelo e disse-te ao ouvido que gostava muito de ti. Sei que de alguma forma ouviste as minhas palavras, por isso também me arrependo de ter chorado, porque deves ter percebido a tristeza na minha voz. Lamento que as últimas recordações minhas que tenhas levado para esse lado não tenham sido sorrisos e gargalhadas, mas a dor era demasiado forte para ser contida.

Não te vou falar da mulher em que me tornei, porque sei que tu assististe a tudo, sei que estiveste sempre lá, que foste tu quem me ajudou nas minhas (ainda) pequenas conquistas, que me amparaste a queda de cada vez que a vida me puxou o tapete. Em todas essas ocasiões, pensei em ti. Pensei em ti quando te dediquei a minha tese de licenciatura, quando festejei o final do curso, quando arranjei emprego... Mas também pensei em ti quando soube deste problema de saúde e que ele me poderá vir a dar uma morte muito parecida com a tua, quando a minha mãe ficou doente, quando os médicos não sabiam dizer se algum dia ela voltaria a andar, quando agora recentemente o fantasma do cancro pairou sobre ela... Sei que estiveste sempre lá comigo, por isso é que aprendi a viver sem pensar muito na minha própria saúde, a ver o lado positivo e a pensar que poderia ser bem pior; foi por isso, por estares lá, que a minha mãe desafiou a ciência e está aí com (quase) tanta genica como antes, a melhorar aos poucos, capaz já de dar caminhadas consideráveis ao meu lado, e sem qualquer problema oncológico...

Obrigada por não me abandonares. E hoje, que fazes anos, é dia de celebrar a tua existência, a vida que viveste e que permitiu que fizesses parte da minha, e a tua vida actual, superior, além do plano físico, que te mantém presente nos bons e maus momentos.

Feliz aniversário!

1 comentário:

Neni disse...

Que bonito, menina Cinderela.