sábado, 20 de fevereiro de 2010

Happy Birthday, Sis!


É assim todos os anos. Ela arregala aqueles olhos esverdeados e faz-se pequenina para me ouvir contar a mesma estória outra vez. De entre todas as versões, ela prefere a minha, de irmã mais velha. E e eu conto-lhe tudo o que me lembro daquele dia 20 de Fevereiro.

Devo ter acordado com o barulho. A prima crescida disse-me que o mano ia nascer e eu fiquei assustada. Pela porta semi-aberta, vi a mãe passar no corredor, agarrada ao pai e à tia. Foi daí que me pediu que rezasse por ela. E eu rezei para que ela voltasse rápido, para que não me deixasse com a prima por muito tempo.
Não me lembro de ter sido um dia diferente. Recordo-me do telefonema do pai, à hora de almoço, apenas para dizer que estava tudo a correr bem mas que o bebé ainda não tinha nascido. Já à noite, estava eu a fazer birra para não comer aquelas batatas estufadas, o telefone tocou outra vez. O pai queria falar comigo:

-"É uma menina!"
-"Sim, está bem, mas a Dina quer que eu coma batatas com piri-piri e eu não gosto!"
Aos 3 anos são estas as coisas que nos apoquentam.

No dia seguinte, vestiram-me um vestido bonito e levaram-me à maternidade. Às vezes custa-me acreditar que algum dia tenha sido pequenina como as crianças que vejo na rua, mas quando me lembro desse dia, em que nem conseguia chegar à janela do berçário para ver os bebés, sei que também eu já fui uma amostra de gente. O pai pegou em mim e apontou, dizendo que "a nossa" era aquela. Eram todos iguais. Só um pretinho vestido de branco sobressaía.

-"Esta?"- perguntei com o indicador voltado para o bebé cor-de-chocolate.
O pai riu muito e só depois de instruções mais precisas percebi que "a nossa" era aquela com a manchinha de sangue no nariz.

A mãe, dorida da cesariana, ainda não a tinha visto. Quando me perguntou pela mana, fui sincera:
-"É tão feia! Tem sangue no nariz, e é vermelha. Eu preferia o pretinho."

Assim que percebi que a senhora da cama ao lado tinha tido um menino, ainda tentei convencê-la a trocar connosco. Ela, muito prestável, disse que sim, que como já tinha um rapaz maior, trocava o pequeno por uma menina, mas por algum motivo o negócio não se concretizou e acabámos por levar para casa "a nossa", a que nos tinha calhado na rifa.
Foi uma pena, porque eu queria mesmo um irmão. Já tinha escolhido o nome: Rato Mickey. Sendo uma menina, teria de pensar melhor.

Para o resto da estória, não sou talvez a melhor narradora. Os outros dizem que eu me fechava no quarto quando o pai chegava a casa e lhe dava um beijo primeiro a ela, mas eu nunca me lembro de isso ter acontecido. Já da vez em que fugi para casa da tia a chorar, lembro-me bem. Eu queria pão com manteiga e a mãe estava ocupada a dar de mamar à pequena intrusa, por isso pediu-me para esperar um bocadinho. Esperar? Eu? Mas eu já cá estava antes dela chegar! Se alguém devia esperar, esse alguém era ela. E cheia deste orgulho que cresceu comigo, resolvi procurar uma família onde não me fizessem esperar pelo meu pão com manteiga.

E podia ficar aqui o resto da tarde a contar o que me lembro dos meses seguintes, dos anos que se foram passando, mas hoje tenho outras prioridades. Vou festejar o 23º aniversário da minha osguinha. Cresceu rápido, e tornou-se na melhor irmã do mundo. Encho-me de orgulho quando a vejo sair de casa, com os seus fatos impecavelmente engomados e o seu cabelo loiro sempre arranjado. Chamo-a de Barbie Economista e ela ri-se, a minha menina.
Hoje está de parabéns. E eu vou abraçá-la muito e preparar-me para lhe contar esta estória mais uma vez.

5 comentários:

Kika disse...

PARABÉNS!
Delicio-me sempre com estas histórias :)

D. disse...

Que lindo!:)
Parabéns!!!!!!!!

Soinita disse...

Que giro lembrares-te do nascimento da tua irmã quando tinhas apenas 3 aninhos! :)

Parabéns para ela.

Bijus

Olhos Dourados disse...

Adorei ler as tuas memórias=)
Parabéns para ela.

Tanita disse...

Ah, o que eu já ri com este post... e muitos Parabéns (embora atrasados) à mana.
Beijinhos às duas.