quarta-feira, 22 de abril de 2009

Deveres conjugais

Há pouco tempo, mudou-se para o prédio da minha tia um simpático casal de brasileiros. Gente alegre, bem-disposta, que nunca acusa as agruras da vida.
Tudo corria bem, a convivência era mais do que pacífica, até os vizinhos se começarem a queixar do barulho fora de horas, que perturba a quietude de um condomínio que sempre respeitou as horas de descanso convencionais.

A vizinha que mora no apartamento imediatamente por baixo do deles, na qualidade de maior prejudicada, tomou a seu cargo a iniciativa de lhes bater à porta, pedindo-lhes amavelmente para terem em atenção o adiantado da hora. Ao que a brasileira respondeu, no seu sotaque adocicado:
-"Sabe, a gente chega tarde a casa e ainda tem que fazer amor..."

A vizinha de baixo ficou desarmada com tal justificação, virou costas e voltou para casa.
Provavelmente, foi deitar-se na cama ao lado de um marido demasiado preguiçoso (ou desinteressado) para a satisfazer ao fim de um dia de trabalho, pela madrugada dentro. Provavelmente, recordou tempos em que a paixão e o desejo eram intensos, em que não havia cansaço capaz de os impedir de se amarem. Provavelmente, sentiu inveja da sua vizinha de cima.
E, no dia seguinte, fingiu que achava tudo aquilo indecoroso e tratou de contar às outras mulheres lá do prédio a sem vergonhice da brasileira. Todas elas se sentiram despeitadas com a sorte dessa mulher a quem a dureza do trabalho e as saudades da pátria não impediam de gozar os prazeres da carne. Todas elas lhe cobiçaram o marido, comparando-o com o homem que tinham em casa.
E então, para se defenderem do impulso que sentiam de mudar as rotinas tranquilas e familiares lá de casa, em que o amor estava confinado aos Sábados à noite e às vésperas de feriado, para se defenderem do medo de que os anos e os quilos que se foram instalando tivessem diluído a sua capacidade de seduzir e ser seduzidas, trataram de difamar a brasileira, espalhando aos sete ventos o seu deboche.

E foi assim que eu, que moro longe da minha tia e de todas essas mulheres, acabei por ficar a saber da existência de uma brasileira que todas as noites, tarde e a más horas, se dá a indecências que acordam os vizinhos, pessoas sérias (e assexuadas, ao que tudo indica) que precisam de dormir, porque no dia seguinte de manhã têm de ir trabalhar.

1 comentário:

Cidchen disse...

Coitado do casal brasileiro. xD