Desde que acabámos a faculdade que as minhas colegas organizam, de vez em quando, uns convívios em torno de uma mesa bem servida, em homenagem às tradições académicas que nos ficaram no coração.
Até ao momento, foram organizados dois jantares. O terceiro está já na calha, agora que se aproxima a Queima das Fitas.
São jantares só de mulheres, mulheres que partilharam cinco anos de estudo, de brincadeiras, de festas… Cinco anos em que, efectivamente, se tornaram mulheres.
Até ao momento, foram organizados dois jantares. O terceiro está já na calha, agora que se aproxima a Queima das Fitas.
São jantares só de mulheres, mulheres que partilharam cinco anos de estudo, de brincadeiras, de festas… Cinco anos em que, efectivamente, se tornaram mulheres.
Eu não fui a nenhuma das edições anteriores. Não fui porque sentia vergonha de as reencontrar e de, inevitavelmente, ter lhes falar da minha (inexistente) vida profissional.
Não era motivo para sentir vergonha nenhuma, eu sei, principalmente porque na nossa sociedade a empregabilidade traduz mais rapidamente a rede de relações sociais que se possui do que a competência que se tem, mas na altura eu não me queria sentir inferior a elas, não queria que elas sentissem pena de mim por não ter conseguido ainda o meu lugar ao sol. Sou demasiado orgulhosa para isso.
Tendo em conta as estatísticas, provavelmente muitas delas estariam na mesma situação que eu. Mas quando eu tomava a minha decisão, só conseguia pensar naquelas que já estavam a trabalhar e acabava sempre por inventar uma desculpa qualquer para não ir e me poupar a essa humilhação.
Felizmente, já estou a trabalhar há vários meses. Consegui emprego dentro da minha área de formação, numa instituição de prestígio, um trabalho daqueles que muita gente gostaria de ter, que causa boa impressão ao preencher documentos e formulários. Se eu fosse má pessoa, estaria ansiosa para ir ao jantar desta vez, só para passar a noite a gabar-me e a fazer-lhes inveja (eu disse que eram colegas, não amigas, ‘tá?).
Mas não sou. E agora que a parte profissional está bem e se recomenda, vejo aqui outro motivo de constrangimento: a ausência de namorado.
As minhas colegas todas conheciam o meu Príncipe, as suas provas de amor eram populares entre elas. Poucos dias antes de terminarmos o nosso curso, uma delas até me disse que haviam estado a fazer uma previsão sobre qual de nós casaria primeiro e que eu tinha sido a mais votada. Era a relação em que todas acreditavam.
Como lhes vou explicar agora que, graças à minha estupidez e ao meu orgulho (outra vez, esse famigerado!) acabei por perder o homem perfeito? Que não só não fui a primeira a casar (a bem dizer isso também não estava nos meus planos) como, passado este tempo, estou sozinha como nunca antes estive?
O convite não especifica se o jantar é extensível a apêndices, mas ainda que não seja, da maneira que eu as conheço, sei que vão sempre arranjar maneira de os exibirem. Ou lhes pedem para as irem buscar, ou lhes dizem para irem ter ao local onde formos de seguida beber um copo… E, de uma maneira ou de outra, o assunto vai acabar por vir à baila.
Pelo que fui sabendo muitas delas já casaram, muitas outras vivem conjugalmente. Houve até quem já se tenha divorciado mas esteja novamente envolvida numa nova relação… Na pior das hipóteses, têm pelo menos namorado. Eu não tenho ninguém.
Na faculdade, quando era aceitável (e, para algumas, até recomendável) estar sozinha, eu tinha alguém. Agora estar sozinha é apenas triste. E como se a situação não fosse suficientemente difícil por si só, ainda querem que eu vá expor a minha solidão?
Prefiro poupar-me a isso.
No entanto, gostava de rever algumas pessoas de quem tenho saudades, e de certeza que até me faria bem espairecer e divertir-me um pouco, depois destes últimos meses de caos que vivi, mas como o fazer sem me sentir uma looser no meio delas?
Se o sono não me turva o raciocínio, estas são as minhas opções:
A. Não vou. Perco uma noite potencialmente agradável, a oportunidade de rever colegas com quem partilhei tantas coisas e a possibilidade de ver quem engordou (esta última suscita-me muita curiosidade, confesso).
B. Vou, digo a verdade, que eu e o meu Príncipe já não fazemos parte da mesma estória, e sujeito-me a uma série de perguntas a que não vou querer responder e a comentários com o intuito de me animarem (alguns genuínos, outros nem por isso) mas que só me vão deixar mais deprimida.
C. Vou, digo-lhes que eu e o Príncipe ainda estamos juntos e apaixonados como nos tempos de faculdade e, na parte em que os apêndices delas se juntarem a nós, digo que o meu teve um compromisso qualquer.
D. Vou e contrato um gajo lindo de morrer de um serviço de escort masculino para fingir que é meu namorado. Se me perguntarem pelo Príncipe, digo-lhes que se juntou a um grupo de monges Budistas e que fez votos de clausura desde que eu o troquei pelo Deus grego de que me vou fazer acompanhar.
Estou muito inclinada a optar pela hipótese D, admito! Hehehe!
Agora a sério, será que estou condenada a sentir-me sempre incompleta? Será que é impossível ter tudo e que vai haver sempre um vazio em alguma área da minha vida?
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