domingo, 26 de abril de 2009

Os cromos de todos os dias

Era um homem na casa dos quarenta, ar de engatatão, baixote, careca, de pança proeminente.
Usava uma camisa com o execrável pullover sem mangas, calças de sarja e mocassins, os preferidos dos heteros-de-meia-idade-que-têm-a-mania-que-parecem-mais-jovens-se-fizerem-boicote-aos-sapatos-com-atacadores . Trazia uns óculos de sol de uma qualquer colecção Primavera-Verão 1997, colocados na cabeça, como que a servir de bandolete para o farto cabelo imaginário. Ao passar perto de mim, senti-lhe o cheiro enjoativo a after-shave barato.
Quando se sentou, verifiquei que calçava meias com bonecos. Aí, notou que eu o observava e lançou-me um sorriso seboso, certamente convencido de que era o maior por conseguir ainda chamar a atenção de uma miúda com idade para ser sua filha.

Estava eu a pensar que deveria trazer a máquina fotográfica sempre comigo, a fim de registar estes fenómenos tão raros, em que tudo quanto há no mundo de piroso e foleiro se concentra numa só pessoa, quando ouço aquela música, "You and I", dos Scorpions, a tocar e o vejo prontamente retirar o telemóvel de uma bolsa colocada no cinto. A cereja no topo do bolo foi o espalhafatoso "Tou-tou?" com que silenciou a melodia.

Não, definitivamente eu não deveria ter trazido a máquina fotográfica; eu deveria era ter trazido a câmara de filmar!

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